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𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝟎𝟐 ▎As cartas de ninguém

SEGUNDO | As cartas de ninguém

A fuga da jibóia brasileira rendeu aos trigêmeos o castigo mais longo. Na altura em que lhe permitiram sair do armário, as férias de verão já tinham começado e Duda já quebrara a nova filmadora, acidentara o aeromodelo e, na primeira vez em que andará na bicicleta de corrida, derrubara a velha Sra. Figg quando atravessava a rua dos Alfeneiros de muletas.

Dandara teve dó da pobre senhora.

Os três estavam contentes que as aulas tivessem acabado, mas não conseguiam escapar da turma de Duda que o visitava diariamente. Pedro, Dênis, Malcom e Górdon eram todos grande e burros, além de serem completamente insuportáveis como o primo, mas Duda era o maior e o mais burro, sendo assim o líder.

Filipa odiava quando eles apareciam, a forma como os garotos zuavam Harry e davam em cima de Dandara a irritava. Eles já tentaram dar em cima de Filipa, mas ela os socou no nariz e eles nunca mais tentaram, ela ri quando se lembra da cena deles correndo para os braços de suas mães.

Por essa razão os três tentavam ficar o máximo de tempo possível longe de casa, ficavam perambulando pelas as ruas e às vezes paravam no único parquinho por perto para que a mais nova dos três pudesse ir no balanço. Harry pensava esperançoso sobre o fim das férias, em setembro ele iria para a escola secundária e, pela primeira vez, se veria livre de Duda.

Suas irmãs estudavam em uma escola para garotas, então infelizmente ficaria sem as vezes por grande parte do dia, e isso chateia Harry.

Duda tinha uma vaga na antiga escola do Tio Valter, Smeltings. Pedro ia pra lá também. Harry, por outro lado, ia para a escola secundária local e as garotas foram transferidas para uma escola em tempo Integral para garotas a cerca de meia hora do bairro. Duda achava a situação engraçada.

── Eles metem a cabeça dos garotos no vaso sanitário, no primeiro dia de escola. ── contou ele a Harry ── Quer ir lá em cima praticar?

── Não, obrigado. ── respondeu Harry ── O coitado do vaso nunca recebeu nada tão horrível quanto a sua cabeça, é capaz de passar mal. ── e correu antes que Duda conseguisse entender o que dissera.

Não demorou muito até que Filipa notou Duda e sua turma correndo atrás de alguém, ela forçou um pouco os olhos e notou Harry se esforçando para não ser alcançado por nenhum daqueles garotos.

── Fique aqui, irei salvar Harry e já volto. ── ela disse para Dandara que acenou e continuou a se balançar contente.

No fim do dia Harry tinha um olho roxo, Duda um nariz sangrando e Filipa uma semana de castigo. Mas tinha valido a pena.

Certo dia de Julho, tia Petúnia levou Duda até Londres para comprar o seu uniforme para o Smeltings. Os trigêmeos foram levados até a casa da Sra. Figg, ela parecia bem melhor que antes mas ainda tinha algumas dores, pela fratura feita por tropeçar em um dos gatos a fez parecer que não gostava mais tanto deles como antes.

Ela ofereceu um pedaço de bolo de chocolate para os três, que pelo gosto parecia ter muitos anos.

Naquela noite, Duda desfilou para a família reunida na sala de estar vestindo o uniforme novo de Smeltings. Os alunos de Smeltings usavam casaca marrom-avermelhada, calções cor de laranja e chapéus de palha. Carregavam também bengalas nossas, que usavam para bater uns nos outros quando os professores não estivessem vendo, eles consideravam isso um bom treinamento para o futuro.

Filipa torcia para que alguém batesse tão forte na cabeça de Duda e o deixasse mais burro, porém isso parecia ser impossível pois seu cérebro não parecia saber soletrar ao menos a palavra pão.

Ao contemplar Duda nos calções laranja novos, tio Valter disse com a voz embargada que aquele era o momento de maior orgulho em sua vida. Tia Petúnia rompeu em lágrimas e disse que não podia acreditar que era o seu Dudinha, era tão bonito e adulto. Filipa e Harry se seguraram muito para não soltarem risadas, Dandara beliscou os dois pois sabia que tia Petúnia os deixariam de castigo caso soubesse.

Havia um cheiro horrível na cozinha na manhã seguinte quando os três entraram para o café da manhã. Parecia vir de uma grande tina de metal dentro da pia. Eles se aproximaram para espiar. A tina aparentemente estava cheia de trapos sujos que transbordaram na água acinzentada.

── O que é isso? ── Harry perguntou à tia Petúnia. Os lábios dela se contraíram como de costume quando um deles se atreviam a perguntar algo.

── Estou tingindo seu novo uniforme, e para vocês duas infelizmente tivemos que comprar novos. Qualquer rasgo ou danificação, lhes deixarei de castigo por dois meses naquele armário.

Era sempre assim, Filipa e Dandara eram garotas então não teria como as colocar para usar as roupas de Duda, todos olharam torto para Petúnia. Então ela sempre pegava roupas velhas das filhas de suas amigas, ou ia em lojas com os preços mais baixos possíveis e comprava uma ou duas peças para cada garota. E quando era algo mais caro como o uniforme, elas teriam que cuidar de suas vidas ou ficariam de castigo.

Uma vez Dandara derrubou suco de laranja em um vestido que sua tia comprou para o aniversário de Pedro, o qual fez questão que Dandara aparecesse de qualquer jeito, e Petúnia se deixou sem café da manhã por dois dias. A garota amava o café da manhã porque era o horário onde eles comiam comida fresca e gostosa, mas perdeu isso durante dois dias e foi muito triste.

É claro que Filipa e Harry sempre escondiam alguns pedaços de bacon e pão para a irmã mais nova.

── Não sabia que tinha que ser tão molhado.

── Não seja idiota. ── retorquiu tia Petúnia com rispidez ── Estou tingindo de cinzento umas roupas velhas de Duda para você. Vão ficar iguaizinhas umas às outras.

Harry tinha sérias dúvidas, mas achou melhor não discutir. Sentou-se à mesa com suas irmãs e Filipa começou a por o prato para os irmãos, Harry estava triste por saber que usaria os antigos trapos de Duda e Dandara ao seu lado estava contente pensando em como seria o novo uniforme.

Duda e tio Valter entraram ambos com os narizes franzidos por causa do cheiro do novo uniforme de Harry. Tio Valter abriu o jornal como sempre fazia e Duda bateu na mesa com a bengala da Smeltings, que ele carregava para todo o lado.

"Parece um idiota" Lipp pensou revirando os olhos disfarçadamente, estava sem paciência para broncas naquela manhã.

Ouviram o clique da portinhola para as cartas e o som da correspondência caindo no capacho da porta.

── Apanhe o correio, Duda. ── disse tio Valter por trás do jornal.

── Mande o Harry apanhar.

── Apanhe o correio, Harry.

── Mande o Duda apanhar.

── Cutuque ele com a bengala da Smeltings, Duda.

Harry se esquivou da bengala e foi apanhar o correio. Havia cinco coisas no capacho: um postal da irmã de tio Valter, Guida, que estava passando as férias na ilha de Wight, um envelope que parecia uma conta e - cartas para ele e suas irmãs.

Harry apanhou-a e ficou olhando, o coração vibrando como um elástico gigante. Ninguém, jamais, em toda a sua vida, lhe escrevera e suas irmãs também nunca receberam cartas endereçadas a elas.. Quem escreveria? Eles não tinham amigos, nem outros parentes - não eram sócios da biblioteca, de modo que jamais receberam sequer os bilhetes grosseiros pedindo a devolução de livros. Contudo, ali estava, três cartas, endereçada tão claramente que não podia haver engano.

Sr. H. Potter
O Armário sob a escada
Rua dos Alfeneiros 4
Little Whinging
Surrey

O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado com tinta verde-esmeralda. Não havia selo.

Quando virou o envelope, com a mão trêmula, Harry viu um lacre de cera púrpura com um brasão; um leão, uma águia, um texugo e uma cobra circulando uma grande letra "H".

── Anda depressa, moleque! ── gritou tio Válter da cozinha. ── Está fazendo o quê, procurando cartas-bombas? ── E riu da própria piada.

Harry voltou à cozinha, ainda de olhos fixos na carta. Entregou a conta, o postal ao tio

Válter e as cartas para suas irmãs que o encararam confusas, sentou-se e começou a abrir lentamente o envelope amarelo.

Tio Válter rasgou o envelope da conta, deu um bufo de desdém e virou o postal.

── Guida está doente ── informou à tia Petúnia.

── Comeu um marisco suspeito...

── Pai! ── exclamou Duda de repente. ── Pai, os três receberam cartas!

Harry ia desdobrar a carta, escrita no mesmo pergaminho grosso que o envelope, quando tio Válter arrancou-a de sua mão. Ele repetiu o mesmo ato com as meninas, Filipa se levantou rapidamente junto a Harry.

── É minha! ── disse Harry, tentando recuperá-la.

── Você não pode tomar algo que me pertence. ── Lipp disse com raiva, ela odiava Duda e seus pais com toda a sua força.

── Quem iria escrever para vocês? ── zombou tio Válter, sacudindo as cartas com uma das mãos para desdobrar uma delas e percorrendo-a com o olhar. Seu rosto passou de vermelho para verde mais rápido do que um sinal de tráfego. E não parou aí. Segundos depois ficou branco-acinzentado, cor de mingau de aveia velha.

── P-P-Petúnia! ── ofegou.

Dara realmente pensou que seu tio teria um piripaque naquele momento.

Duda tentou agarrar a carta para lê-la, mas tio Válter segurou-a no alto fora do seu alcance.

Tia Petúnia apanhou-a cheia de curiosidade e leu a primeira linha. Por um instante pareceu que ela talvez fosse desmaiar. Levou as duas mãos à garganta e produziu um ruído de engasgo.

── Válter! Ah, meu Deus, Válter!

Eles se encararam, parecendo ter esquecido que Harry, Filipa, Dandara e Duda continuavam na cozinha.

Duda não estava acostumado a ser desprezado. Deu uma bengalada forte na cabeça do pai.

── Quero ler esta carta ── falou alto.

── Quero lê-la ── disse Harry, furioso ── porque é minha.

── Eu também quero ler. ── Dara se levantou ficando ao lado dos dois irmãos.

── Essas cartas nos pertence, vocês não tem direito de nos tirar elas. ── Lipp reclamou.

── Saiam, os quatro ── ordenou com voz rouca tio Válter, enfiando a carta no envelope.

Os trigêmeos não se mexeram.

── QUERO MINHA CARTA! ── gritaram.

── Me deixa ver! ── exigiu Duda.

── FORA! ── berrou tio Válter, e agarrando os dois, Harry e Duda, pelo cangote atirou-os no corredor e bateu a porta da cozinha. As meninas foram arrastadas por Petúnia para fora junto com os garotos.

Harry e Duda na mesma hora tiveram uma briga furiosa, mas silenciosa, para saber quem ia escutar à fechadura; Duda ganhou, por isso Harry, os óculos pendurados em uma orelha, deitou-se de barriga no chão para escutar pela fresta entre a porta e o chão.

Dandara e Filipa olhavam atentamente os garotos tentando ouvir a conversa, tentavam a todo custo capturar qualquer coisa que envolvesse as cartas endereçadas a eles.

── Válter ── disse tia Petúnia com voz trêmula ──, olhe só o endereço. Como é que eles poderiam saber onde eles dormem? Você acha que estão vigiando a casa?

── Vigiando, espionando, talvez nos seguindo ── murmurou tio Válter enlouquecido.

── Mas o que vamos fazer, Válter? Vamos responder à carta? Dizer a eles que não queremos...

Harry via os sapatos pretos lustrosos do tio Válter andando para cá e para lá na cozinha.

── O que estão dizendo? ── Dara pergunta ao irmão.

── Sobre negar algo.

── Ei! Eles não podem decidir nada por nós, as cartas não foram enviadas para eles. ── Lipp claramente estava tremendo de raiva naquele momento.

── Não ── disse ele, decidido. ── Não, vamos ignorá-la. Se não receberem uma resposta... É, é o melhor... não vamos fazer nada...

── Mas...

── Não vou ter um deles em casa, Petúnia! Nós não juramos quando o recebemos que íamos acabar com aquela bobagem perigosa?

Aquela noite, quando voltou do trabalho, tio Válter fez uma coisa que nunca fizera antes; visitou os três no armário.

── Cadê minha carta? ── perguntou Harry, no instante em que tio Válter se espremeu pela porta.

── Quem escreveu? ── a mais nova dos três perguntou curiosa.

── Ninguém. Endereçaram a vocês por engano - disse tio Válter secamente. ── Queimei a carta.

── É impossível endereçarem por engano, estava nossos nomes e localização exata. ── Filipa levantou ficando frente a frente com o tio ── Vocês estão nos enrolando.

── CALADA! ── gritou tio Válter e algumas aranhas caíram do teto. Ele inspirou algumas vezes e então fez força para produzir um sorriso que pareceu bem penoso.

── Hum, sim, meninos, sobre este armário. Sua tia e eu estivemos pensando... vocês realmente estão ficando grandes demais para ele... achamos que seria bom se vocês se mudassem para o segundo quarto de Duda.

── Sério? Poderemos sair daqui? ── Dandara disse animada.

── Por quê? ── perguntou Harry.

── Não façam perguntas ── disse com rispidez o tio. ── Levem essas coisas para cima agora.

A casa dos Dursley tinha quatro quartos: um para tio Válter e tia Petúnia, um para hóspedes (em geral a irmã de tio Válter, Guida), um onde Duda dormia e um onde Duda guardava todos os brinquedos e pertences que não cabiam no primeiro quarto.

Os três precisaram de apenas uma viagem para mudar tudo o que tinha do armário para o quarto no andar de cima. Harry sentou-se na cama e deu uma olhada à sua volta. Quase tudo ali estava quebrado.

A cama disponível no quarto não era muito grande, mas em compensação tinha um colchão um pouco maior no chão, então era só fazerem um cronograma sobre quem dormiria na cama em casa dia da semana. Mesmo assim Dandara estava feliz com a mudança, não gostava mesmo daquele armário, animada ela correu até a janela observando a pouca movimentação da rua.

── Tem alguma coisa estranha nisso. ── Filipa disse ao irmão que concordou.

Lá de baixo veio o barulho de Duda gritando com a mãe:

── Eu não quero eles lá... eu preciso daquele quarto... manda eles saírem.

Harry suspirou e se esticou na cama. Ontem ele teria dado qualquer coisa para estar ali. Hoje, preferia estar no seu armário com aquela carta a ali em cima sem ela.

A curiosidade matava Filipa por dentro.

Na manhã seguinte, no café, todos estavam muito quietos. Duda estava em estado de choque.

Berrara, batera no pai com a bengala, vomitará de propósito, dera pontapés na mãe e atirar sua tartaruga pelo teto da estufa de plantas e nem assim conseguirá o quarto de volta.

Harry pensava no dia anterior àquela hora, desejando com amargura que tivesse aberto a carta no hall. Filipa tentava descobrir o que seus tios planejavam.

Tio Válter e tia Petúnia se entreolhavam, ameaçadores. Quando o correio chegou, tio Válter, que parecia estar tentando ser agradável com os três, fez Duda ir buscá-lo. Eles o ouviram bater nas coisas do corredor com a bengala da Smeltings. Então ele gritou:

── Chegou outra! Srta. D. Potter, O Menor Quarto da Casa, Rua dos Alfeneiros 4...

Com um grito sufocado tio Válter saltou da cadeira e saiu correndo pelo corredor, os irmãos logo atrás dele. Tio Válter teve que lutar e derrubar Duda no chão para lhe tirar a carta, o que foi dificultado por Harry, que agarrara o pescoço do tio Válter por trás.

Depois de um minuto confuso de luta, em que todos levaram várias bengaladas, tio Válter se endireitou, ofegante, com a carta de Filipa apertada na mão.

── Vão para o armário, quero dizer, para o seu quarto ── chiou para os irmãos. ── Duda, saia, saia logo.

Harry e Filipa deram voltas e mais voltas no novo quarto, enquanto Dandara encarava os dois sentada na cama. Alguém sabia que eles se mudaram do armário e parecia saber que eles não receberam a primeira carta. Isto significava com certeza que ia tentar outra vez? E desta vez eles tomariam providências para que desse certo.

── Precisamos pegar aquelas cartas. ── Filipa olhou para os irmãos.

── Mas como iremos pegar? ── a mais nova perguntou.

── Vamos dar um jeito.

Harry tinha um plano.

O despertador consertado tocou às seis horas da manhã seguinte. Harry desligou-o depressa e acordou suas irmãs, os três se vestiram em silêncio. Não podiam acordar os Dursley. Desceram as escadas sorrateiramente sem acender nenhuma luz.

Iam esperar pelo carteiro na esquina da Alfeneiros e receber primeiro as cartas endereçadas ao número quatro. O coração de Dara batia com força quando atravessaram sem ruído o corredor escuro até a porta de entrada.

── AAAAARRREE!

Harry deu um salto no ar - pisara em alguma coisa grande e mole no capacho - uma coisa viva!

As luzes se acenderam no primeiro andar e, para seu horror, os trigêmeos perceberam que a coisagrande e mole tinha a cara do tio.

Tio Válter estava dormindo junto à porta de entrada em um saco de dormir para impedir que os três fizessem exatamente o que estavam tentando fazer.

Gritou com os sobrinhos quase meia hora e depois lhe disse para ir preparar uma xícara de chá. Eles foram para a cozinha arrastando os pés, infeliz, e quando conseguiram voltar o correio tinha sido entregue, bem no colo de tio Válter. Harry viu nove cartas endereçadas em tinta verde.

── Quero... ── começou, mas tio Válter estava rasgando as cartas em pedacinhos bem diante dos seus olhos.

Tio Válter não foi trabalhar naquele dia. Ficou em casa e pregou a portinhola para as cartas.

── Entende ── explicou à tia Petúnia por entre os lábios cheios de pregos ── se eles não puderem entregar então terão de desistir.

── Não tenho muita certeza de que isto vai dar certo, Válter.

── Ah, a cabeça dessa gente funciona de maneira estranha, Petúnia, eles não são como você e eu ── disse tio Válter tentando bater um prego com um pedaço de bolo de frutas que tia Petúnia acabara de lhe trazer.

Na sexta-feira chegaram nada menos de doze cartas para cada um dos três. Como não passavam pela portinhola da correspondência tinham sido empurradas por baixo da porta, metidas pelos lados e algumas até forçadas pela janelinha do banheiro no térreo.

Tio Válter ficou em casa de novo. Depois de queimar todas as cartas, apanhou martelo e pregos e fechou com tábuas as frestas em volta das portas da frente e dos fundos, de modo que ninguém pudesse sair. Cantarolou "Pé ante pé no campo de tulipas" enquanto trabalhava, e se assustava com qualquer ruído.

No sábado as coisas começaram a fugir ao seu controle. Setenta e duas cartas acabaram entrando em casa, enroladas e escondidas nas duas dúzias de ovos que o leiteiro, muito confuso, entregara à tia Petúnia pela janela da sala de estar. Enquanto tio Válter dava telefonemas furiosos para o correio e a leiteria tentando encontrar alguém a quem se queixar, tia Petúnia picava as cartas no processador de alimentos.

── Mas quem é que quer falar tanto assim com vocês? ── Duda perguntou espantado aos primos.

Na manhã do domingo, tio Válter sentou-se à mesa do café parecendo cansado e um tanto doente, mas feliz.

── Não tem correio aos domingos ── lembrou a todos, contente, passando geleia nos jornais ── nada de cartas idiotas hoje...

Alguma coisa desceu chiando pela chaminé do fogão enquanto ele falava e bateu com força em sua nuca. No instante seguinte, noventa ou cem cartas saíram velozes da lareira como se fossem tiros. Os Dursley se abaixaram, mas Harry e Dandara deram um salto no ar para apanhar uma...

── Como são burros. ── Filipa sussurrou para si mesma e pegou uma carta do chão a escondendo entre suas roupas, seus tios eufóricos não viram o movimento da garota.

── FORA! FORA!

Tio Válter agarrou Harry pela cintura e atirou-o no corredor, logo em seguida puxou Dandara e Filipa pelas orelhas. Depois que tia Petúnia e Duda tinham corrido para fora protegendo o rosto com os braços, tio Válter bateu a porta. Eles podiam ouvir as cartas disparando para dentro da cozinha, ricocheteando nas paredes e no chão.

── Já chega ── disse tio Válter, tentando falar com calma, mas, ao mesmo tempo, arrancando tufos de pelos dos bigodes. ── Quero vocês aqui de volta em cinco minutos prontos para sair. Vamos viajar. Ponham apenas algumas roupas nas malas. Não quero discussão!

Ele parecia tão perigoso com metade dos bigodes arrancados que ninguém se atreveu a discutir. Dez minutos depois eles tinham retirado as tábuas para passar nas portas e estavam no carro, correndo em direção à estrada. Duda fungava no banco traseiro; o pai tinha lhe dado um tapa na cabeça por atrasá-los tentando empacotar a televisão, o vídeo e o computador na mochila esportiva.

Eles viajaram no carro. E viajaram. Nem tia Petúnia se atrevia a perguntar aonde iam. De vez em quando tio Válter fazia uma curva fechada e seguia na direção oposta por algum tempo.

── Para despistá-los... despistá-los ── resmungava sempre que fazia isso.

Ele realmente estava ficando louco.

Não pararam para comer nem beber o dia inteiro. Quando a noite caiu, Duda estava uivando.

Nunca tivera um dia tão ruim na vida. Estava com fome, sentia falta dos cinco programas de televisão a que queria assistir e nunca levara tanto tempo sem explodir um alienígena no computador.

Tio Válter parou finalmente à porta de um hotel de aspecto sombrio na periferia de uma grande cidade. Duda e Harry dividiram um quarto com duas camas iguais e lençóis úmidos que cheiravam a mofo. Duda roncou, mas Harry ficou acordado, sentado no peitoril da janela, espiando as luzes dos carros que passavam enquanto pensava...

Filipa e Dandara foram colocadas em outro quarto, um pouco pior que o de Duda e Harry. Dara dormiu assim que encostou a cabeça no travesseiro, mas Filipa ficou acordada encarando a carta que guardou mais cedo.

Srta. F. Potter
O menor quarto
Rua dos Alfeneiros 4
Little whinging
Surrey
Srta. F. Potter

Estava confusa de onde veio aquela carta e porque tanta insistência para que ela e seus irmãos recebessem as cartas, curiosa ela abriu com cuidado.

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS

Diretor: Alvo Dumbledore
(Ordem de Merlim, primeira classe, Grande Feiticeiro, Bruxo chefe, cacique supremo, confederação internacional dos bruxos)

Prezada Srta. Potter,

Temos o prazer de informar que V. Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários. O ano letivo começa em 1 de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.

Atenciosamente,
Minerva McGonagall
Diretora substituta.

── Eles devem estar de brincadeira. ── ela sussurrou para si mesma ── Escola de magia e bruxaria? Isso realmente existe?

Ela encarou a carta por mais alguns segundos e suspirou.

── Sendo verdade ou não, verei isso mais tarde.

Comeram cereal velho e torradas com tomates enlatados frios no café da manhã do dia

seguinte. Tinham acabado de comer quando a proprietária do hotel aproximou-se da mesa.

── Com licença, mas vocês são Filipa, Dandara e Harry Potter? É que eu tenho umas cem dessas na recepção.

E ergueu uma carta para eles poderem ler o endereço em tinta verde:

Sr. H. Potter
Quarto 17
Railview Hotel
Cokeworth

Harry tentou pegar a carta, mas tio Válter afastou sua mão. A mulher ficou olhando.

"Essas cartas novamente, então talvez pode ser verdade." Filipa pensou comendo o velho cereal.

── Eu recebo as cartas ── disse tio Válter, levantando-se depressa e seguindo a mulher que se retirava do salão de refeições.

── Não seria melhor simplesmente irmos para casa, querido? ── tia Petúnia sugeriu timidamente horas depois, mas tio Válter não parecia ouvi-la. Exatamente o que andava procurando.ninguém sabia.

Ele os levou até o meio de uma floresta, desceu do carro, espiou à volta, sacudiu a cabeça, tornou a embarcar no carro e partiram outra vez. A mesma coisa aconteceu no meio de um campo arado, no meio de uma ponte pênsil e no alto de um edifício garagem.

── Papai enlouqueceu, não foi? ── Duda perguntou, cansado, à tia Petúnia no fim daquela tarde.

── Ele sempre foi louco, você só nunca notou. ── Filipa disse engurando o nariz, Petúnia a encarou feio fazendo a menina balançar os ombros.

Tio Válter estacionará no litoral, passará a chave no carro com todos dentro e desaparecerá.

Começou a chover. Grandes gotas batiam no teto do carro. Duda choramingou.

── É segunda-feira - falou à mãe. ── O Grande Humberto vai se apresentar hoje à noite.

Quero estar em algum lugar que tenha televisão.

Segunda-feira. Isto lembrou a Harry uma coisa. Se era segunda-feira - e em geral podia-se confiar que Duda soubesse os dias da semana, por causa da televisão - então o dia seguinte, terça-feira, era o décimo primeiro aniversário dos trigêmeos.

Naturalmente seus aniversários não eram lá muito divertidos - no ano anterior, os Dursley tinham os presenteado com um cabide e um par de meias velhas do tio Válter. Ainda assim, não se fazia onze anos todos os dias.

Tio Válter voltou sorrindo. Carregava um pacote comprido e fino e não respondeu à tia Petúnia quando ela perguntou o que comprara.

── Encontrei o lugar perfeito! ── falou. ── Vamos! Saiam todos!

── Daqui a pouco só faltamos sair do país. ── Lipp resmungou segurando a mão de Dara, a menor tremia de frio.

Harry se aproximou das irmãs e segurou a mão livre da mais nova, fazendo Dandara ficar no meio dos dois irmãos.

Fazia muito frio do lado de fora do carro. Tio Válter apontou para o que parecia ser um grande rochedo no meio do mar. Encarrapitado no alto do rochedo havia o casebre mais miserável que se pode imaginar. Uma coisa era certa, ali não havia televisão.

── Estão anunciando uma tempestade para hoje! ── disse tio Válter alegre, batendo palmas. ── E este senhor teve a bondade de concordar em nos emprestar seu barco!

Um homem desdentado vinha descansadamente em direção a eles, e apontava com um sorriso muito maldoso para um barco a remos velho que subia e descia nas águas cinza-grafite lá embaixo.

── Acho que o tio enlouqueceu. ── Dara suspirou.

── Só notou agora? ── diz Harry.

── Já comprei algumas rações para nós ── disse tio Válter ──, portanto, todos a bordo!

Fazia muito frio no barco. Salpicos de água gelada do mar escorriam pelos pescoços deles e um vento cortante fustigava seus rostos. Depois do que pareceram horas eles chegaram ao rochedo, onde Tio Válter, escorregando, levou-os até a casa em ruínas.

O interior era horrível; cheirava a algas marinhas, o vento assobiava pelas frestas nas paredes de tábuas e a lareira estava úmida e vazia. Havia apenas dois quartos.

Afinal as rações de tio Válter eram uma embalagem de cereal para cada um e seis bananas. Ele tentou acender a lareira, mas a embalagem de cereal apenas fumegou e
carbonizou.

── Aquelas cartas viriam a calhar agora, hein? ──disse ele, animado.

Estava de muito bom humor. Obviamente achava que ninguém teria chance de alcançá-lo ali, durante uma tempestade, para entregar cartas. Harry concordava intimamente, embora este pensamento não o animasse nem um pouco.

Quando a noite caiu, a tempestade prometida desabou ao redor deles. A espuma das altas ondas chapinhava nas paredes do casebre e um vento ameaçador sacudia as janelas imundas.

Tia Petúnia encontrou uns cobertores mofados no segundo quarto e preparou uma cama para Duda no sofá comido pelas traças. Ela e tio Válter foram se deitar na cama cheia de calombos ao lado e deixaram os irmãos procurarem a parte mais macia do soalho e se enrolar no cobertor mais rasgado e ralo.

A tempestade rugia cada vez com maior ferocidade à medida que a noite avançava. Nenhum dos três conseguiram dormir. Tremiam e reviravam, tentando encontrar uma posição confortável, seu estômago roncando de fome. Os roncos de Duda eram abafados pela trovoada que começou por volta da meia-noite.

O mostrador luminoso do relógio de Duda, que estava pendurado para fora do sofá em seu pulso gordo, informava aos irmãos que dentro de dez minutos eles completariam onze anos.

── Em poucos minutos teremos onze anos. ── Harry disse.

── Como será que é ter onze anos? ── Dara se pergunta.

── Nada mudará, será sempre a mesma coisa. ── Harry e Dara suspiraram.

Filipa permanecia calada, seus pensamentos rodavam naquela carta e a estranha informação nela, como poderia existir magia?

── Eu preciso contar algo para vocês. ── Ela disse aos irmãos, os três se sentaram ── Eu sei a verdade sobre aquelas cartas, na realidade nós fomos...

BUM.

O casebre todo estremeceu e Harry segurou a mão de suas irmãs com força, arregalando os olhos para a porta. Havia alguém lá fora, que batia, querendo entrar.

01. Segundo capítulo publicado com sucesso ✓

02. Estou ansiosa para eles irem a Hogwarts e começarem suas aventuras.

03. Quando os três irem a Hogwarts não os veremos tanto juntos, pois cada um é de casas diferentes, tem aulas diferentes e grupos de amigos diferentes.

04. Ansiosos para descobrir quem são os padrinhos de Lipp e Dara? Tem algum palpite.

05. Até a próxima, beijinhos <3

Republicado 24 de
julho de 2024

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